Resumo: Artigo 35958
O papel da ciência e da tecnologia na confrontação dos desastres naturais: novas respostas para velhas questões (9,30,109)
Marcos Mattedi, Universidade Regional de Blumenau, Brazil.
Apresentação: Friday, May 30, 2008 1:15PM - 3:15PM sala 204 - UNIRIO VII ESOCITE - Sessão 16 - Chair: Olga Restrepo Forero
Abstract.
O texto aborda as relações entre a produção e aplicação do conhecimento científico e tecnológico e a problemática dos desastres naturais. Por muito tempo os estudos sociais da ciência e da tecnologia limitaram-se ao estudo do processo de construção social do conhecimento científico e tecnológico. Metodologicamente este processo fundamenta-se na investigação das relações que se estabelecem entre o contexto social (variáveis sociais, políticas, econômicas e sociais) e a ciência e tecnologia. Considerando estes fatores teóricos e metodológicos o presente trabalho problematiza o papel da ciência e da tecnologia desempenham no processo de dissolução das redes sociotécnicas e na a emergência de situações de desastres. Mais precisamente, o presente trabalho examina o papel da ciência e da tecnologia na formação e gestão de desastres naturais. Os desastres naturais tem ocupado uma atenção crescente junto a opinião pública nas últimas décadas por meios de reportagens e imagens que retratam a fome, a seca, a inundação, terremotos, tsumani, erupções vulcânicas, furacões, etc., como, por exemplo, Pinatubo nas Philipinas que matou 943 pessoas e provocou danos U$ 400 milhões em 1991, terremoto de Kobe no Japan que matou 6.336 pessoas, destruiu 122.500 construções e provocou danos estimados em U$ 150 bilhões 1995, o tsunami do Oceano Indico que provocou a morte de 285 mil mortes e danos incaculáveis, o furacão Katrina que atingiu a região de New Orleans e que provocou 1833 mortes e U$ 81 bilhões de danos em 2006, para lembrar somente os maiores casos. É por isso que noções como desastres, hazards, catástrofes, risco, vulnerabilidade tornaram-se centrais para entender nossa época. Podemos pensar, inclusive, todo o conjunto de informações produzidas e sistematizadas nos estudos sobre desastres como uma espécie de introspecção que a sociedade moderna efetua sobre o sentido do seu desenvolvimento com o propósito de criar mecanismos que nos permitam conviver com os riscos, ou mais precisamente, nos permitam desenvolver dispositivos materiais e subjetivos para confrontar os desastres. As formas como os desastres foram sendo representados e enfrentados historicamente constituem um indicador por meio do qual podemos avaliar o significado do interesse público pelo tema da segurança na atualidade, mas também a forma como a ciência e tecnologia foram sendo instrumentalizadas para construção da segurança. Assim, não deixa de ser paradoxal o fato que mesmo durante o Decênio Internacional para Redução de Desastres Naturais Bulding a Culture of Prevention, declarado pelas Nações Unidas para o período de 1990-2000 com o objetivo fortalecer as habilidades científicas e tecnológicas de confrontação, a humanidade tenha testemunhado os desastres mais dramáticos e custosos de sua história. Este agravamento do problema dos desastres nas últimas décadas, em termos do aumento progressivo do número de afetados e perdas econômicas, revela que a dificuldade de atuar sobre os desastres funda-se, na maior parte dos casos, não somente na importância que o tema dos desastres ocupa na agenda de prioridades políticas, econômicas e sociais de cada comunidade, mas, principalmente, nas formas de interpretação e gestão do fenômeno. Neste processo, a ciência e tecnologia vem desempenhado um papel crescente tanto na caracterização do fenômeno quanto na definição de estratégias de confrontação, o que nos permite supor, simetricamente, que se as variáveis sociais, políticas, econômicas e culturais desempenham um papel decisivo na construção do conhecimento tecnocientífico, devem desempenhar também da dissolução do conhecimento tecnocientífico. Considerando estes fatores argumentamos que a incorporação da temática dos desastres naturais nos estudos sociais da ciência e da tecnologia pressupõe uma redefinição da forma convencional de caracterização das relações entre ciência e tecnologia e sociedade. Para desenvolver este argumento a abordagem das relações entre a ciência e tecnologia e a problemática dos desastres será efetuada em cinco partes principais: i) inicialmente apresentaremos as principais estratégias teóricas e metodológicas de abordagem da ciência e da tecnologia; ii) em seguida trataremos das principais estratégias de caracterização e confrontação dos desastres naturais; iii) na terceira parte destacaremos a questão da ciência e da tecnologia na confrontação dos desastres; iv) para ilustrar esta relação consideraremos o caso dos desastres em Santa Catarina/Brasil causados pelas enchentes; v) para finalizar apresentaremos algumas contribuições da área de CTS para a abordagem da questão dos desastres. Temas: 9 - Ciência e tecnologia e impacto ambiental 30 - Ciência e tecnologia e a questão do risco e dos acidentes na América Latina 109 - Tecnologia e ambiente